Abertura do Intercom Centro-Oeste de 2025 debate comunicação, jornalismo e alteridades na UFMS

Postado por: Marcos Paulo da Silva

Por Ana Laura Menegat – Jornalista e mestranda do PPGCOM/UFMS

 

O 25. Congresso de Ciências da Comunicação da Região Centro-Oeste, o Intercom Centro-Oeste 2025, reuniu estudantes, pesquisadoras e pesquisadores da área da comunicação na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O evento da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), que aconteceu entre os dias 20 e 22 de maio, foi organizado pelo curso de Jornalismo e pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM/UFMS).

A mesa de abertura trilhou caminhos de diálogos a partir da reflexão sobre a alteridade e a responsabilidade social dos comunicadores. O debate aconteceu entre as professoras e pesquisadoras Renata Barreto Malta (UFS), Sônia Aguiar (UFS), Rosane Steinbrenner (UFPA) e Katarini Miguel (UFMS), mediadora do encontro.

Ao apresentar as colegas, Katarini Miguel lembrou de bell hooks, pesquisadora negra estadunidense, que defende a sala de aula como “o lugar mais revolucionário para discutir diversidade na universidade”. Além de bell, a pesquisadora também citou Rubem Alves, psicanalista e educador brasileiro, ao dizer que “a ciência tem a obrigação de aliviar a miséria humana”. 

Renata Malta chamou a atenção para o fato de “a alteridade ser sempre relacional”. É nela que a figura dO Outro e dA Outra aparece como alguém distante, exótico, não hegemônico. “Pensar O Outro, pensar quem o define”, explicou a debatedora.

 

“É a perturbadora distância entre grupos hegemônicos e não hegemônicos que constitui a figura da alteridade” Hami Bhabha

 

A pesquisadora da UFS explicou que a identidade não é fixa, algo construído e compartilhado socialmente, pautado em relações de poder e dominação entre grupos sociais. Numa visão essencialista, segundo Renata Malta, “o poder hegemônico define e autoriza a presença e a ausência de grupos sociais”. Assim, a inclusão, apesar de necessária e fundamental, também pressupõe um lugar que já existe.

Um exemplo de uma identidade fixadamé o fato de muitas mulheres negras serem apenas convidadas e autorizadas a falar quando estiverem tratando sobre suas dores e vivências. “O nosso corpo chega primeiro”, afirmou Renata.

A pesquisadora defendeu a teoria de Donna Haraway (2019) de forma que é fundamental falarmos quem somos e de onde viemos, pois mesmo fatos objetivos são sempre interpretados e construídos a partir das subjetividades das pessoas. Essas subjetividades, de acordo com Crenshaw (2014) também são construídas a partir de marcadores sociais que atravessam a nossa vida em sociedade, como identidade de gênero, raça, classe, orientação sexual, localidade geográfica. Kimberlé chama esses marcadores de interseccionalidade, que se caracteriza também como ferramenta analítica para pesquisas científicas. 

 

Pesquisdora defende que um ambiente diverso resulta em um aprendizado plural. Ela questiona: “onde a gente quer chegar?”

 

Sônia Aguiar (UFS) começou sua fala abordando sobre como as identidades diferentes se comportam de formas diferentes em locais diferentes, constituindo assim as alteridades geográficas. 

Essas diferenças geográficas, segundo Sônia Aguiar, englobam as questões trazidas pelos deslocamentos de pessoas e culturas pelos territórios, o que estimula produção de saberes, produção midiática e estranheza cultural. 

“Quanto menor a escala de proximidade geográfica, maior a tendência de uma narrativa mais rica em detalhes, quanto maior o distanciamento dos fatos e seus contextos, maior a supressão da alteridade geográfica”, explicou Sônia. A pesquisadora defendeu a importância do jornalismo local, que cria proximidade com o público e fala das realidades próximas. 

Já a professora Rosane Steinbrenner (UFPA) se apresentou como “uma pessoa da fronteira, e a fronteira no Norte diz muita coisa, inclusive violência”. Ela explica que “lugares de fronteira são lugares de muita assimetria” e é preciso pensar “de que maneira a comunicação atua de forma intrínseca implicadíssima nos processos de resistir”.

Ao pensar nas resistências no ambiente acadêmico e científico, Rosane Steinbrenner denunciou que a relação entre Sujeito e Objeto de pesquisa “é uma relação de dominação”. De acordo com a pesquisadora, é preciso pensar formas humanizadas de nos comunicarmos com os sujeitos e as sujeitas de pesquisa.

A partir dos diálogos das professoras e pesquisadoras, foi possível entender as alteridades como aquilo que nos compõem como pessoas, sujeitas e sujeitos, em nossas subjetividades e nossas existências em contextos sociais e culturais.